Estrutura do dente
O dente é constituído pela coroa, pela raiz e a transição entre estas denomina-se colo.
Na sua constituição o dente apresenta tecidos duros, como o esmalte, a dentina e o cemento, e tecidos moles, como a polpa e o ligamento periodontal.
A porção mais interna do dente é de tecido mole, denomina-se polpa, e é considerada a porção nobre do dente, rica em vasos sanguíneos, nervos e tecido conjuntivo. A polpa está revestida pela dentina, que a protege.
Na porção da coroa, a dentina é coberta pelo esmalte e na porção da raiz é coberta pelo cemento.
O osso alveolar e o ligamento periodontal são partes constituintes do conjunto de tecidos que suportam e protegem o dente, constituindo o periodonto.
Esmalte
O esmalte é a camada externa da coroa do dente e, devido ao seu alto teor de sais minerais e à sua estrutura cristalina, é o tecido mineralizado mais duro do corpo humano. A função do esmalte é fornecer forma e dar contorno às coroas dos dentes e formar uma cobertura resistente da parte que é exposta ao ambiente oral, tornando-os adequados para mastigação.
Composto por matéria inorgânica (96%), que lhe confere opacidade, nomeadamente cristais de hidroxiapatite, água (3%) e matéria orgânica (1%) tais como as glicoproteínas, proteínas não-colagénicas, amelogeninas (90%), enamelina e ameloblastina (10%). A hidroxiapatite é um fosfato de cálcio cristalino que também é encontrado no osso, na dentina e no cemento.
As unidades básicas do esmalte são chamadas de PRISMAS. Estes são estruturas longitudinais (com cerca de 4µm), aumentam de diâmetro à medida que se aproximam da superfície e vão desde a JAD (Junção amelodentinária) à superfície do esmalte.
Existem variações na disposição, no tamanho e na direção dos prismas de esmalte, que por sua vez são compostos por cristais, e que podem explicar a maioria das características topográficas reconhecidas no tecido. A orientação dos cristais de Hidroxiapatite cria o esmalte prismático (mesma direção) e aprismático.
No esmalte existem estrias, das quais destacamos os Tufos de esmalte e as Lamelas de esmalte.
Os tufos de esmalte localizam-se na camada mais interna do esmalte e apresentam uma orientação uniforme dos prismas. São estruturas juncionais hipomineralizadas e compostos por “tufelina”, proteínas da matriz orgânica.
As lamelas de esmalte estão presentes nas regiões hipomineralizadas, têm origem na maturação incompleta dos prismas, estão presentes ao longo de toda a superfície do esmalte e são mais longas e menos comuns que os Tufos.
Complexo Pulpo-Dentinário
A polpa e a dentina são descritas como tecidos com características distintas, no entanto, como estão intimamente interligadas podem ser consideradas uma unidade funcional, o complexo pulpo-dentinário. Partilham a mesma origem embrionária (tecido mesenquimatoso) e ambas têm origem na papila dentária. Os odontoblastos constituem um elemento fundamental para o funcionamento deste complexo dinâmico e interativo. A dentina é produzida pelos odontoblastos e a polpa dentária depende da proteção proporcionada pela dentina.
Dentina
A dentina é um tecido conjuntivo mineralizado e avascular que forma a maior parte do dente. As propriedades físicas da dentina e do esmalte são complementares, pelo que, contrariamente ao esmalte, que é muito duro e quebradiço, a dentina é viscoelástica e sujeita a ligeira deformação, suportando e compensando a fragilidade do esmalte.
É composta por 70% de matéria inorgânica (cristais de hidroxiapatite), 20% de matéria orgânica (fibras de colagénio tipo I, proteoglicanos e glicoproteínas), e 10% de água.
A dentina é resiliente ou levemente elástica, e isso permite que o impacto da mastigação ocorra sem fraturar o esmalte sobreposto. Tanto a matriz orgânica como a arquitetura tubular proporcionam maior resistência à compressão, à tração e à flexão comparativamente com o esmalte.
Na organização estrutural da dentina descrevem-se os túbulos dentinários, dentina intertubular e dentina peritubular.
A dentina é permeada pelos túbulos dentinários, os principais componentes da microestrutura da dentina, que contêm os prolongamentos odontoblásticos, essenciais para a sua formação e o fluido dentinário. Os túbulos dentinários seguem um trajeto que se assemelha a um S (trajeto sigmoide), designando-se como curvaturas primárias, e a sua configuração indica o percurso seguido pelos odontoblastos durante a dentinogénese.
Relativamente à classificação da dentina de acordo com a localização em função dos túbulos dentinários, podemos classificá-la em dentina intertubular e dentina peritubular.
A maior parte do tecido dentinário é composto por dentina intertubular, que se localiza entre os túbulos dentinários ou, mais especificamente, entre as zonas de dentina peritubular. É constituída pelo mesmo tipo de fibras da matriz orgânica (fibras de colagénio tipo I e cristais inorgânicos de hidroxiapatite) e formam uma malha orientada quase perpendicular à dentina peritubular.
A dentina peritubular é formada, aproximadamente, ao mesmo tempo que (ou logo após) a dentina intertubular. Após a maturação das paredes dos túbulos dentinários na dentina intertubular recentemente formada na superfície da polpa, é depositada outro tipo de dentina nas paredes do túbulo dentinário, estreitando o lúmen. Esse tipo de dentina é conhecido como dentina peritubular e a sua formação leva, gradualmente, à obliteração dos túbulos.
Polpa
A polpa dentária, inicialmente, é chamada de papila dentária. Só após a diferenciação das células periféricas da papila em odontoblastos, e a formação de dentina ao seu redor, passa a chamar-se polpa. A polpa dentária pode ser definida como um tecido conjuntivo laxo, altamente vascularizado e inervado, de origem mesodérmica. É responsável pela formação de dentina e localiza-se na câmara pulpar, na coroa e nos canais radiculares, na raiz. Comunica com o ligamento periodontal através do forame apical e do forame acessório.
A polpa dentária é um tecido que pode ser diferenciado, histologicamente, por áreas:
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A zona central é formada por veias, artérias e troncos nervosos que entram na polpa a partir do canal apical, prosseguem para a polpa coronária, circundados por fibroblastos e fibras de colagénio incorporadas numa matriz extracelular.
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Na zona periférica estão as células envolvidas na dentinogénese, os odontoblastos.
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Histologicamente, da superfície para o centro, encontramos a zona odontoblástica, a zona livre de células (zona de Weil ou camada basal de Weil) e a zona rica em células onde existe uma elevada concentração de capilares (o plexo capilar subodontoblástico) e de axónios (o plexo nervoso de Raschkow).
A polpa é constituída principalmente por células como os odontoblastos, os fibroblastos, as células de defesa e as células-tronco.
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Os odontoblastos são a segunda célula mais numerosa na polpa e formam uma camada que reveste a periferia da polpa, apresentando prolongamentos que se estendem até à dentina.
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Os fibroblastos são as células mais numerosas na polpa. São responsáveis pela formação de fibras de colagénio e de substância fundamental.
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Entre as células de defesa podem encontrar-se os macrófagos, os linfócitos e os mastócitos.
A polpa tem múltiplas funções:
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Indutora, devido à interação com as células epiteliais orais durante o desenvolvimento inicial, levando à diferenciação da lâmina dentária e à formação do órgão do esmalte.
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Formadora, visto que os odontoblastos da polpa formam a dentina que circunda e protege a polpa.
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Protetora, uma vez que os nervos sensoriais respondem com dor a estímulos como a pressão, o calor, o frio, procedimentos de corte cirúrgico e agentes químicos.
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Nutritiva, dado que transporta oxigénio e necessidades metabólicas para o dente em desenvolvimento
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Reparadora, como resposta a estímulos, quer sejam mecânicos, térmicos, químicos ou bacterianos, através da formação de dentina reparadora e reacional.
Cemento
Tecido conjuntivo mineralizado, muito semelhante ao tecido ósseo, mas avascular e sem sistema de Havers. Envolve a dentina na sua porção radicular. Em termos de composição, apresenta 45%-50% de matéria inorgânica (cristais de hidroxiapatite na forma de fosfatos de cálcio, estrôncio, magnésio, chumbo, fluoreto) e 50%-55% de matéria orgânica (colagénio tipo I, proteoglicanos e glicoproteínas) e água, fazendo lembrar a composição do tecido ósseo.