Embriologia das Estruturas faciais
A origem embriológica da face é complexa e envolve a formação e coordenação entre diversos tecidos. O desenvolvimento facial começa nas fases iniciais da embriogénese e, portanto, durante este período, o contacto com fatores que interferem no desenvolvimento pode resultar em anomalias faciais.
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Embriologia do crânio
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A formação e o desenvolvimento da cabeça dividem-se em duas partes principais: o Neurocrâneo e o Viscerocrâneo.
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Neurocrâneo - Porção da cabeça que protege o SNC, e que se forma durante a segunda semana de desenvolvimento a partir de um modelo mesenquimatoso. Divide-se em duas partes:
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Calote craniana - Constituída por ossos chatos (ossificação membranosa)
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Na altura do nascimento, os ossos chatos do crânio estão separados por tecido conjuntivo, denominado de suturas cranianas. Nos locais onde se encontram mais de dois ossos, as suturas possuem dimensões maiores e são chamadas de fontanelas. Existem três fontanelas diferentes (anterior, parietais e frontal), sendo que a anterior é a maior de todas.
As principais funções das suturas/fontanelas é permitir a moldagem da calote durante o parto e acompanhar o crescimento do cérebro ao longo da infância.
Base do crânio - Constituída pelo condrocrâneo (Ossificação encondral)
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A sua ossificação é maioritariamente do tipo encondral, onde existe a substituição do tecido cartilagíneo por osso.
O rochedo e a apófise mastóide formam-se a partir de cartilagem, mas a apófise mastóide só se desenvolve após o nascimento. O nervo facial que emerge pelo buraco estilo-mastóideu pode ser lesado pelos fórceps durante o parto.
Viscerocrâneo - É constituído pelos ossos da face e desenvolve-se a partir dos 2 primeiros arcos faríngeos. Porção da cabeça a partir da qual se formam os órgãos dos sentidos e a porção inicial do tubo digestivo e aparelho respiratório.
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O desenvolvimento do aparelho mastigatório encontra-se intimamente associado com a formação e crescimento da face. E esta, por sua vez, encontra-se associada diretamente à formação dos arcos faríngeos. Os arcos faríngeos são estruturas arqueadas, separadas por sulcos, que surgem entre a quarta e a quinta semana de gestação na cabeça embrionária. Cada um dos arcos faríngeos é enervado por um par craniano específico.
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Nota: Os arcos faríngeos também são conhecidos por arcos branquiais, embora esta denominação seja menos usada visto que é referente aos arcos de peixes e anfíbios.
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Existem 5 arcos faríngeos:
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1º Arco Faríngeo (ou arco mandibular) - É constituído por uma porção dorsal (apófise maxilar) que se estende até ao olho e por uma porção ventral (apófise mandibular ou cartilagem de Meckel). Ambas as porções contribuem para a formação da boca, lábios, bochechas e fossas nasais.
Os músculos da mastigação, milohióideu, ventre anterior do digástrico, músculo tensor do véu palatino e o tensor do tímpano têm origem no 1º Arco Faríngeo.
A porção posterior da apófise mandibular, juntamente com o 2º arco faríngeo vai dar origem aos ossículos do ouvido. A ossificação dos ossículos inicia-se no 4º mês de gestação e são os primeiros ossos a serem completamente ossificados.
A apófise mandibular também dá origem à mandibula, onde estão presentes os dois tipos de ossificação. O corpo e os ramos da mandíbula são formados por ossificação intramembranosa, enquanto os côndilos da mandíbula são formados por ossificação endocondral, por substituição da cartilagem de Meckel. Esta cartilagem também forma os ossículos do ouvido, o ligamento anterior do martelo e o ligamento esfeno-mandibular.
Este arco faríngeo é inervado pelo nervo trigémeo (V).
2º Arco Faríngeo (ou arco hióide) - É também chamado de cartilagem de Reichart e dá origem a diversas estruturas como a apófise estiloide do temporal, o estribo, o ligamento estilo-hióide e o parte do osso hióide.
Os músculos da mímica, o ventre posterior do digástrico, o estilohióide e o estapédio têm origem no 2º arco faríngeo.
Este arco faríngeo é inervado pelo nervo Facial (VII)
3º Arco Faríngeo - Este arco faríngeo dá origem à porção inferior do osso hióide, ao músculos estilo-faríngeo e constritores faríngeos superiores. Parte da língua também deriva deste arco, logo parte da sua enervação provem deste arco.
Este arco faríngeo é inervado pelo nervo Glossofaríngeo (IX).
4º e 5º Arco Faríngeo - Originam as cartilagens da laringe e diversos músculos como o cricotiróideu, elevador do véu palatino, m. constritor da faringe, m. intrínsecos da laringe e a porção do músculo estriado pertencente ao esófago.
Este arco faríngeo é inervado pelo nervo Vago (X).
Boca Primitiva
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O intestino primordial é dividido em várias porções, sendo uma delas o intestino faríngeo que se estende da membrana buco-faríngea até ao divertículo traqueo-bronquíco e é particularmente importante no desenvolvimento da boca e dos seus órgãos anexos. O intestino faríngeo está em contacto direto com a ectoderme do pavimento do estomódio e a membrana ecto-endodérmica da membrana oro-faríngea.
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O estomódio é a boca rudimentar que se desenvolve entre os primeiros arcos faríngeos na 4º semana de desenvolvimento embrionário. Durante a 4º semana, a membrana que cobre o estomódio (membrana buco-faríngea) rompe e é estabelecida uma ligação entre o estomódio e a cavidade oral primitiva. Nesta fase, o tubo digestivo encontra-se em contacto com a cavidade amniótica.
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Após 42 dias de gestação, é possível distinguir 5 processos mesenquimatosos ao redor do estomódio:
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Processo Frontonasal -🡪 Elevação arredondada que é o limite superior do estomódio. No processo frontonasal encontra-se, de cada lado, um espessamento da ectoderme superficial denominada placódio nasal que irá dar origem ao nariz.
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À volta dos placoides nasais vão se formar 2 processos, o processo nasal lateral e o processo nasal mesial, que irão fundir-se com as proeminências maxilares ao longo do desenvolvimento embrionário.
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Proeminências Maxilares - Duas proeminências, que limitam lateralmente o estomódio. Ao longo do desenvolvimento embrionário, os processos maxilares vão aumentado e confluindo para a linha média, para a zona do estomódio. As proeminências maxilares também se fundem com os processos nasais mesiais e laterais, dando origem ao palato, aos 4 incisivos superiores e ao filtro do lábio. Alterações na fusão entre as proeminências maxilares e os professos nasais mesiais e laterais podem levar ao lábio leporino (mais frequente nos rapazes) e à fenda palatina (mais frequente nas raparigas).
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Proeminências mandibulares -🡪 Duas proeminências, que limitam inferiormente o estomódio. Irão dar origem ao limite inferior da boca primitiva, à mandíbula, ao lábio inferior e ao pavilhão auricular. Com o desenvolvimento da mandíbula, o pavilhão auricular aproxima-se dos olhos.
Língua
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Na 4º semana de desenvolvimento embrionário, a língua surge como 2 dilatações laterais linguais e uma dilatação medial, também apelidada de tubérculo ímpar. As 3 dilatações surgem de uma proliferação da mesoderme do 1º arco faríngeo, mais precisamente da porção ventral do arco mandibular. Seguidamente, é formada uma segunda dilatação medial, a eminência hipobranquial, que proveniente da mesoderme do segundo, terceiro e quarto arco faríngeo. Por fim, surge uma terceira dilatação medial, formada pela porção posterior do quarto arco faríngeo, que irá dar origem à epiglote.
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Como resultado da proliferação e do crescimento da mesoderme para as dilatações laterais, estas dilatações aumentam de volume e fundem-se, formando os 2/3 anteriores da língua. Como as dilatações laterais tem origem no 1º arco faríngeo, a mucosa desta porção da língua é enervada pelo nervo trigémio.
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A porção posterior da língua é proveniente da segunda dilatação mesial, daí ser enervada pelo nervo glossofaríngeo. A extremidade mais posterior da língua e a epiglote são enervadas pelo nervo laríngeo superior.
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As bochechas formam-se pelas alterações posicionais da língua, do pavimento da boca e pelo alargamento da mandíbula (e não pelas dilatações). Secundariamente, as bochechas e os lábios são invadidos pelo mesenquima do 2ºarco. Este mesenquima originará os músculos que serão inervados pelo VII par craniano.
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